Não sou nada especial

Na época daquela escolinha onde fui abandonado, eu era um menino muito popular. Não entendo bem o porquê. Eu era o que se chama de uma criança nojenta - ignorando algumas crianças e criticando o desenho de outras. Mas, como dizem: quanto mais você gonga, mais você reina. Eu seguia esse lema.

Sendo um muleque popular, o que não me faltavam eram namoradinhas. Tinha a Danielle, que eu gostava, e a Beatriz, que gostava de mim. Como a Bia não era de se jogar fora, deixava ela achar que era minha namorada também. E assim eu seguia com as duas, estilo pegador. Nojento, popular e pegador - um exemplo de menino de cinco anos.

Nesse contexto, entrou pra nossa turma a Tamires. Ela também era bonitinha, mas mal conversávamos. Mal tenho lembranças dela. Sei que ela começou a espalhar que eu era namorado dela. Dizia isso em alto e bom som pra quem quisesse ouvir. Ficava de cara com ela. Como pode? Nem perguntou a minha opinião. Certa vez, falei pra ela que a gente não namorava nada. Tamires deu de ombros. Pensei: é louca.

E então, certo dia, a mãe de Tamires chegou na escola com convites pro aniversário da filha. Deu o meu pra minha mãe e falou que 'eu tinha que ir, porque eu era o namorado da Tamires e ela me adorava'. Ha ha Fiquei puto. Aquilo tava tomando dimensões maiores do que eu esperava. Já tinha alcançado o mundo dos adultos. Tava me incomodando. Contei pra minha mãe (tipo Popys) que era mentira. Mas sabe como são mães: acham que a gente tá com vergonha de assumir que tá namorando. Que situação! Minha mãe tava no time da Tamires.

Que que eu fiz? Não ia deixar Tamires usar meu nome dessa forma. Fui na festa de aniversário dela. Afinal, 'eu era o namorado de Tamires e ela me adorava' não ia perder uma festa por bobagem. Na hora do parabéns, teve aquela palhaçada de 'com quem será? com quem será que Tamires vai casar? vai depender, vai depender se o...' e é claro que todos gritaram meu nome em alto e bom som. Acabada a música, todos olharam pra minha cara com aqueles sorrisos maliciosos no canto da boca. E, em alto e bom som também, gritei:

- Sou dessas.