Criança, eu tinha uma fantasia: eu era filho bastardo do Príncipe Charles. Alguém me disse que ele havia vindo ao Brasil no passado e eu tinha certeza que minha mãe havia engravidado dele. Tentava convencê-la a me contar a verdade sobre a minha paternidade, mas ela não me dizia o que eu queria ouvir. Até que um dia descobri que príncipes tinham sangue azul.
- Mãe, meu sangue é azul?
- Não. É vermelho.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Por que umas pessoas nascem com sangue azul?
- Quem nasce com sangue azul, já nasce com dinheiro.
- Não. É vermelho.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Por que umas pessoas nascem com sangue azul?
- Quem nasce com sangue azul, já nasce com dinheiro.
Erro materno: ser pouco específica nas respostas.
- Eu não nasci com dinheiro, mãe?
- Não.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Mas viram direito?
- Viram o que, Leozinho?
- Viram se não tinha dinheiro na sua barriga? Talvez eu tenha saído e deixado o dinheiro lá.
- É sério, mãe. Eu acho que não procuraram direito. Devia ter dinheiro na sua barriga. Eu acho que tenho sangue azul.
- Não tinha dinheiro não. Viram direitinho.
- Hunf.
- Não.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Mas viram direito?
- Viram o que, Leozinho?
- Viram se não tinha dinheiro na sua barriga? Talvez eu tenha saído e deixado o dinheiro lá.
A essa altura da conversa, minha mãe ria.
- É sério, mãe. Eu acho que não procuraram direito. Devia ter dinheiro na sua barriga. Eu acho que tenho sangue azul.
- Não tinha dinheiro não. Viram direitinho.
- Hunf.
Sem sangue azul e sem dinheiro na barriga, definitivamente, eu não era filho do Charles. Mas só me convenci mesmo disso quando descobri que meu pai tinha na altura da cintura uma marca de nascença que eu tenho igual no mesmo lugar. Sem escapatória.
1 comentários:
caralho, fazia tempo que eu não encontrava algo tão bom de ler e que me divertia tanto!
to adorando o blog.
sério!
ta de parabens!
;)
Postar um comentário