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domingo, 13 de setembro de 2009

A primeira vez que vi um morto

Quando recebemos a ligação dizendo que um dos irmãos da minha avó havia morrido, foi um auê. Minha mãe começou a agilizar as coisas para irmos para Barbacena, Minas Gerais, para o velório e o enterro. Foi tudo muito rápido e quando notei já estávamos dentro de um ônibus. Eu não conseguia entender aquilo de viajar para ver um cara morto. Por que não tínhamos viajado para vê-lo vivo?

Lembro que minha mãe estava muito preocupada com a minha cabeça. Como eu reagiria àquilo tudo? Naquela época, eu tinha em torno de 6 anos. Ela estava preocupada, mas não pensou duas vezes em me carregar pra lá. É aquilo né: é bom as crianças lidarem com a morte desde cedo.



Chegamos lá na igreja onde estava sendo o velório de madrugada. Eu tava doido pra ver o morto! Mas não deixaram: me botaram pra dormir na parte de trás de um carro. Quando acordei, já era dia. E pedi pra ver o morto. Saí do carro e a cada passo que eu dava vinham parentes e mais parentes desconhecidos se apresentarem.

- Oi, Leozinho, eu sou seu primo, sabia?
- Não é não.
- Sou sim. Sou primo da sua mãe!
- Se é primo da minha mãe, não é meu primo. Eu hein.

Climão. Eu hein. Papo de primo de segundo, terceiro e quarto grau pra cima de mim? Nananinanão. E essa cena se repetiu várias vezes.

- Mãe, tá todo mundo dizendo que é primo meu.
- Mas eles são mesmo.
- Não são não.

Quando finalmente consegui chegar ao caixão, ele estava colocado numa mesa muito maior do que eu. Eu não conseguia ver nada. Maldita altura. Eu queria ver o morto. Viajei só pra isso! Andei um pouco pra trás. Dei uma corridinha. E me joguei em cima da mesa, me segurando pra não cair. Fiquei ali pendurado cara-a-cara com o difunto. Toda a sala estava tensa com a minha atitude. Minha mãe correu e me colocou no chão de novo, toda sem graça. Não sei como ela não torceu minha orelha, como teria feito em outras situações. Ela apenas falou pra eu me comportar e me tirou dali de dentro da capela com a desculpa de irmos tomar um café da manhã.

- Mãe, por que ele tava com algodão no nariz?
- Ele morreu, Leozinho.
- E botaram algodão no nariz pra terem certeza que ele não vai voltar a respirar?

Como podem ver, meu primeiro velório e enterro foi um dia de muitas descobertas. Ao contrário do que a minha mãe pensava, não fiquei nem um pouco chocado ou amedrontado. Qual é! A nossa cachorrinha já tinha morrido. Eu tinha experiência no assunto.

2 comentários:

Thatiana disse...

Já ri com você fazendo saltos no meio do velorio!!! Só voce!

Ricardo disse...

hahahaha

Barbacena? Adoro!

Minha professora de semiotécnica sempre fala em Barbacena em vez de falar lá onde o diabo perdeu as botas ou lá onde o vento faz a curva... hshsauahauaa

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