Quando recebemos a ligação dizendo que um dos irmãos da minha avó havia morrido, foi um auê. Minha mãe começou a agilizar as coisas para irmos para Barbacena, Minas Gerais, para o velório e o enterro. Foi tudo muito rápido e quando notei já estávamos dentro de um ônibus. Eu não conseguia entender aquilo de viajar para ver um cara morto. Por que não tínhamos viajado para vê-lo vivo?
Lembro que minha mãe estava muito preocupada com a minha cabeça. Como eu reagiria àquilo tudo? Naquela época, eu tinha em torno de 6 anos. Ela estava preocupada, mas não pensou duas vezes em me carregar pra lá. É aquilo né: é bom as crianças lidarem com a morte desde cedo.
Chegamos lá na igreja onde estava sendo o velório de madrugada. Eu tava doido pra ver o morto! Mas não deixaram: me botaram pra dormir na parte de trás de um carro. Quando acordei, já era dia. E pedi pra ver o morto. Saí do carro e a cada passo que eu dava vinham parentes e mais parentes desconhecidos se apresentarem.
- Não é não.
- Sou sim. Sou primo da sua mãe!
- Se é primo da minha mãe, não é meu primo. Eu hein.
Climão. Eu hein. Papo de primo de segundo, terceiro e quarto grau pra cima de mim? Nananinanão. E essa cena se repetiu várias vezes.
- Mas eles são mesmo.
- Não são não.
Quando finalmente consegui chegar ao caixão, ele estava colocado numa mesa muito maior do que eu. Eu não conseguia ver nada. Maldita altura. Eu queria ver o morto. Viajei só pra isso! Andei um pouco pra trás. Dei uma corridinha. E me joguei em cima da mesa, me segurando pra não cair. Fiquei ali pendurado cara-a-cara com o difunto. Toda a sala estava tensa com a minha atitude. Minha mãe correu e me colocou no chão de novo, toda sem graça. Não sei como ela não torceu minha orelha, como teria feito em outras situações. Ela apenas falou pra eu me comportar e me tirou dali de dentro da capela com a desculpa de irmos tomar um café da manhã.
- Ele morreu, Leozinho.
- E botaram algodão no nariz pra terem certeza que ele não vai voltar a respirar?
Como podem ver, meu primeiro velório e enterro foi um dia de muitas descobertas. Ao contrário do que a minha mãe pensava, não fiquei nem um pouco chocado ou amedrontado. Qual é! A nossa cachorrinha já tinha morrido. Eu tinha experiência no assunto.
2 comentários:
Já ri com você fazendo saltos no meio do velorio!!! Só voce!
hahahaha
Barbacena? Adoro!
Minha professora de semiotécnica sempre fala em Barbacena em vez de falar lá onde o diabo perdeu as botas ou lá onde o vento faz a curva... hshsauahauaa
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